Como exatamente a Nintendo Destruiu o Yuzu
Antes que você fale que “emulação é legal”, eu digo que depende. No caso da Justiça Americana, eu digo que depende muito!
Você já deve estar por dentro de que o Yuzu, emulador de Nintendo Switch para Android e PC foi encerrado através de um "acordo hostil" com a Nintendo.
A Big N aplicou um duro golpe na emulação. Com uma só tacada, destruíram também o emulador Citra, que não tinha nada a ver com a história. O Citra era apenas desenvolvido pela mesma equipe/empresa.
Do ponto jurídico, a "bala de prata" que matou o Yuzu foi essa:
Lei DMCA Seção 1201:
A Lei de Direitos Autorais do Milênio Digital (“DMCA”), codificada em parte em 17 U.S.C. § 1201, torna ilegal contornar medidas tecnológicas usadas para impedir o acesso não autorizado a obras protegidas por direitos autorais, incluindo livros, filmes, videogames e software de computador protegidos por direitos autorais.
Vou enumerar aqui alguns pontos que colocaram o Yuzu em "maus lençóis", assim como aconteceu com o Skyline (outro emulador que foi descontinuado em 2023 ao ser pego usando repositório de keys).
Por que a emulação do Yuzu era vista como ilegal e os devs preferiram fazer um acordo?
Ainda que fosse um Software livre, o Yuzu, e outros emuladores de Switch, precisam utilizar chaves criptografadas para decodificar os jogos do console.
Essas chaves são encaradas juridicamente como código proprietário da Nintendo, ou seja, ao utilizar elas para rodar os jogos em outro hardware, o usuário está contornando uma medida de segurança do console sem a autorização da Nintendo.
Para ser um emulador "100% legalizado" era preciso que o Yuzu tivesse uma engenharia reversa completa ao ponto de não precisar dessas chaves privadas.
Infelizmente não é só isso. Pessoal do Yuzu foi juvenil no site deles.
1 - Site do Yuzu ensinava a fazer dump de firmware e keys
O site do Yuzu ensinava a fazer dump das chaves privadas do sistema e do firmware com o intuito de contornar as medidas de proteção e jogar games do Switch no PC e celular.
E qual o problema disso?
O problema era o uso de chave proprietária da própria Nintendo para contornar uma medida de segurança e facilitar o uso de uma cópia que não era a original. As chaves são únicas para cada jogo, quando uma chave de um jogo está na internet, percebe-se que muitos usuários estão usando “a mesma cópia” do jogo, o que só é possível em caso de distribuição em massa.
O site também ensinava a utilizar ferramentas para modificar o Switch e extrair as keys.
2 - Yuzu usava imagens de jogos comerciais para anunciar novidades
Os devs do emulador Yuzu foram muito descuidados na questão de apresentar as novidades do emulador.
Ao contrário de outros devs, que não usam nenhuma imagem de jogo comercial proprietário, os devs do Yuzu usavam constantemente prints de jogos do Switch e até gameplays de jogos first party da Nintendo.
Site usava abertamente imagens de jogos comerciais para divulgar o seu emulador |
Anunciavam várias melhorias citando jogos específicos.
Os posts de report eram bem documentados, documentados até demais, citando jogos comerciais e correção de bugs gráficos nesses games.
Com isso, comprova-se que o foco não era homebrew, mas sim a emulação de jogos comerciais.
Qualquer Juiz nos EUA que olhar o site diria dar a decisão favorável a Nintendo, alegando uso de propriedade intelectual.
3 - O lançamento de Zelda Tears of Kindom complicou muito o Yuzu
The Legend of Zelda: Tears of the Kingdom vazou 13 dias antes do lançamento. O game estava jogável no Yuzu e fãs postaram o gameplay completo usando o emulador.
A gente é acostumado a pensar que qualquer incursão da justiça tem que ser em “tempo real”, mas a justiça em qualquer país não funciona assim.
A Nintendo é nefasta e soube esperar todo o bafafá do emulador com o seu maior game, quase um ano depois, do lançamento para aplicar essa porrada no Yuzu.
Caso você não se lembre, na época, a Nintendo estava ocupada indo atrás da pessoa que vazou o jogo antes do lançamento e indo atrás das ferramentas que permitem decriptar jogos do Nintendo Switch.
Na época, os desenvolvedores do Yuzu respondiam nas redes sociais que estavam trabalhando para melhorar a performance do emulador no jogo, uma clara afirmação de que estavam focando em rodar o game que nem tinha sido lançado.
Quando a Nintendo acusou o emulador de perdas pelo vazamento do jogo, eles embasaram a acusação em postagens assim:
Yuzu se complicou ao fazer posts como esse. |
Ao fazer publicações assim, via-se que o foco era mesmo reproduzir cópias de games comerciais e não o Homebrew.
Era algo muito “na cara dura”, na moral.
4 - Criar uma empresa para gerir o emulador é um “tiro no pé”
O Yuzu é um emulador de propriedade da Tropical Haze LCC.
Pensava-se que ao criar uma empresa para gerenciar um emulador de código fonte aberto seria uma boa ideia para proteger o mesmo.
Mas é o contrário. Isso só seria válido se fosse feita uma engenharia reversa completa, ao ponto de não precisar de nenhuma chave ou código proprietário (firmware) da Nintendo.
Na realidade, criar uma empresa e serem fáceis de serem “encontrados”, foi o pior para o Yuzu.
Tanto é que o pedido inicial da Nintendo era de “apenas” US$ 150 mil dólares, e virou US$ 2.4 milhões.
A empresa, constitui algo que pode ser passível de ação judicial, e no caso do Yuzu, a Nintendo partiu pra cima indicando que a empresa feria gravemente o seu negócio ao usar software da própria Nintendo (Keys e Firmware) para lucrar.
Conclusão
E essas são basicamente as falhas que levaram o Yuzu à morte.
O Yuzu era uma peça de software incrível, e o Citra mais ainda.
É uma pena que a comunidade se empolgou muito e esquece de se proteger judicialmente.
Mesmo que o projeto seja de software livre, algumas ações são passíveis de punição legal, e quando analisadas em conjunto, podem fazer qualquer juiz decidir a favor das grandes corporações.
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