Crise no mercado de games? O que está acontecendo?

Já pode parar de fingir que não existe uma crise nos videogames

Demissões em massa e estúdios querendo sacanear a gente

 

O mundo dos games vive uma crise com precedentes envolvendo demissões, cortes de curtos, projetos cancelados e adiados.

E muita gente por aí tem fingindo que está tudo bem. Sonhando com jogos AAA (ou quad-A) mais baratos. 

Apenas entre os anos de 2022 e 2023, 19 mil pessoas que trabalhavam na indústria de games perderam o seu emprego, e isso falando apenas dos números oficiais. 

Todo dia temos notícias de projetos adiados ou cancelados devido a crise, sem falar na ideia de várias empresas de aumentar o preço dos jogos acima dos US$ 70 dólares (lançamento). Consegue imaginar o impacto disso aqui no Brasil? Jogos acima de 350 reais?

 

Para aqueles que ainda duvidam que não há uma crise, vamos a um recap de anúncios de demissões apenas em janeiro de 2024. 

 

Enfim, basta colocar “demissão” no Google Notícias que a primeira notícia que vai aparecer sempre será do mercado de games. 

O momento é de contração do setor, e não adianta fingir que isso não está acontecendo. 

 

E antes que me venha com "Olha só, defendendo estúdio bilionário, haha". Aqui está uma lista de 

Estúdios Indie que FECHARAM ou fizeram demissões em massa:

  1. Publisher de The Banner Saga fecha as portas
  2. Todos os estúdios menores que a EA Fechou 
  3. Sony fecha Estúdio Indie PixelOpus
  4. Estúdio Triple Topping anuncia falência
  5. Sandstorm studio foi fechado pela Embracer 
  6. DANG! estúdio de Boomerang X foi fechado
  7. Threshold Games fecha as portas
  8. Estúdio Forgotten Key foi fechado
  9. Aragami studio fecha e alega economia difícil
  10. Fechando do Stadia arrasa vários devs indies
  11. Excelente apanhado de demissões no site Tecmasters

 

Não é segredo para ninguém que o "gamer médio"  é um "garoto mimado" na casa dos 30 anos que acha que as empresas tem que "dar as coisas para ele" e "alimentá-lo com novidades, pois está entediado".

Vamos deixar pra zoar o "gamer médio" outro dia, vamos analisar o que está acontecendo com o mercado de games.


O que está acontecendo com o mercado de games

 Além das demissões em massa, segundo análise do Christopher Dring, head de B2B do site gamesindustry.biz, um site sobre a indústria de jogos eletrônicos que cobre o mercado há mais de 20 anos, o momento é realmente delicado. 

Você deve estar pensando, “bem, isso é apenas um movimento de contração por conta da pandemia”, mas não é apenas isso. 

Na realidade, a pandemia anabolizou uma crise econômica advinda dos EUA e Europa que vinha sendo alardeada desde 2019 tornou tudo pior. 

E essa crise que afeta todo o setor de tecnologia, caiu como uma bomba no setor de games. 

A pandemia, por exemplo, mascarou o declínio do mercado de videogames. 

Durante os lockdown muita gente ficou em casa sem ter o que fazer e jogar virou uma das principais atividades. Logo, o consumo de games aumentou bastante e de forma “artificial”. 

No final de 2022, com o fim da pandemia, o mercado encolheu 7%. Em 2023, o “crescimento”, se é que podemos chamar assim, foi de apenas 0.6% (para mim isso é “andar de lado”). 

Para 2026, a previsão do newzoo.com é que o mercado cresça “1.3%”. no comparativo com 2021, que foi um ano exagerado por conta da pandemia… é pouco? É muito pouco!

 

1. Desenvolver games ficou mais caro

A primeira coisa que é preciso entender é que o custo de desenvolvimento de jogos ficou mais caro, quase dobrou. 

Hoje em dia é quase 2 vezes mais caro desenvolver um jogo para qualquer plataforma. 

Você já deve ter visto algum jornal falando em inflação nos EUA e na Europa? Isso afetou todos os mercados, inclusive o de videogame. E como o preço dos games é tabelado (US$ 60-70), sobrou para os custos de desenvolvimento. 

Os custos para desenvolver um jogo triplo-A possui números muito parecidos com os de filmes de blockbuster do cinema. 

Cyberpunk, por exemplo, custou US$ 174 milhões de dólares e teve marketing igualmente milionário de US$ 142 milhões de dólares (US$ 436 milhões no total)

Muitos estúdios não divulgam os números de custos dos jogos, mas sabemos que a coisa vai mal quando os estúdios começam a demitir em massa ou fechar.

Já faz um bom tempo que inúmeros estúdios e produtores insinuam que gostariam que os jogos custassem mais de US$ 70 dólares (Veja aqui). 


2. Crunch

No mundo dos games, crunch se refere ao período de desenvolvimento mais intenso dos jogos, onde é preciso que os funcionários fiquem longos horas, ou até durmam nos estúdios a fim de terminar o game na data prevista para o lançamento. 

O que era algo incomum, virou um padrão na indústria e são poucos os estúdios que não praticam o crunch. 

O lado ruim dessa prática é que há vários impactos negativos na saúde dos funcionários dos estúdios. 

Esse é mais um exemplo do que a indústria de games tormou.

 

3. Grandes estúdios concentram a maioria das vendas

Outro efeito que ajuda a mascarar a crise no mercado de games são os grandes estúdios que conseguem vender bem mesmo na crise. 

O mercado de games, que é fortemente digital hoje em dia (71%) concentra a maioria das vendas em jogos novos (fonte). 

Os Games que são lançamentos, abocanharam 40% das vendas no total (fonte). Em outras palavras, menos jogos variados foram vendidos e a concentração das vendas foi maior em lançamentos maiores e mais novos.

Aí, mas é só tacar um GTA 6 e tá sussa.

Sim, é exatamente sobre isso.

Com certeza estúdios como a RockStar e Activision, podem se dar ao luxo de adiar games ao infinito e lançá-los em qualquer data, pois sempre haverá uma campanha de marketing enorme. 

Contudo, mesmo estúdios grandes como Square Enix reclamam da venda dos jogos lançamentos com comentários como “não atingindo as metas”,veja aqui.

Atualmente, de estúdio “mediano”, conheço apenas a From Software, como um estúdio que pode se dar ao luxo de atrasar jogos ou DLC e mesmo assim gerar muita expectativa. 



3. Implosão do modelo “Live Service”

Durante o ano de 2019, 2020 e 2021, houve grandes aquisições e enormes investimentos na indústria visando os games “live service” ou “jogos como serviço”. 

Jogos como serviço, são games online, geralmente multiplayer onde as produtoras lançam conteúdos constantemente atualizando o game com novas fases e missões. 

Dezenas, senão centenas (milhares se incluir mobile) de projetos de jogos assim estavam nos planos das produtoras. 

De olho nas receitas e lucros acima da média de jogos assim no mobile, muitos nomes consagrados do mercado como Naughty Dog e Rocksteady investiram anos e milhões de dólares em projetos de jogos assim. 

Sabe o que aconteceu? NADA… ou muita pouca coisa. 

A Naughty Dog por exemplo, passou 6 anos desenvolvendo um jogo de The Last of Us com multiplayer e “live service” e o cancelou no final de 2023. 

The Avengers, projeto da Square Enix com a Marvel, tinha planos de ser um jogo para durar anos, foi um desastre completo. 

Suicide Squad: Kill the Justice League, apesar do talento da Rocksteady Studios segue com aceitação mista tanto do público como da mídia. 

A lista de jogos fracassados é imensa, você pode dar uma olhada nos principais aqui

Aonde eu quero chegar é que assim como qualquer outro games, a receita dos jogos “Live Service” não compensaram os custos de produção. 

Pode não parecer, mas esse tipo de jogo possui orçamento até maior que  jogos triplo-A, pois é preciso planejar anos de conteúdo (pelo menos 2 anos de antecedência). Sem contar os custos de manutenção, que são exorbitantes também. 

O lucro também seria alto, caso os jogos fossem um sucesso, entretanto, a apostas dos estúdios nesse estilo de jogo se provou falha. O público simplesmente não quis. 

O que o mercado de games mandou como termômetro para os estúdios é que já existem jogos assim demais e público de menos, pois quem já joga um game assim, não vai largar seu jogo “live service” favorito para começar a jornada em outro game desse tipo. 



4. Consoles vão acabar em breve

Recentemente saiu o relatório de vendas da Sony para o PlayStation 5 e apenas de vender cerca de 21 milhões de unidades em apenas um ano, o CEO da Sony, Kenichiro Yoshida, não está satisfeito. Nem ele e nem os acionistas. Tanto que as ações da empresa caíram. 

Veja bem, 21 milhões de consoles vendidos, quase a mesma quantidade de Series X e S em 3 anos!

Microsoft já está trabalhando para um mercado “pós-console”, com foco em nuvem e seu bem sucedido Xbox Cloud Gaming. 

A Sony já avisou que o futuro dos jogos é “PlayStation em todos os lugares”, sinalizando que vai seguir a mesma proposta da Microsoft. 

Sinalizar algo como o fim dos consoles, realmente é algo que não pode ser visto como positivo.

 

Para resumir, são tempos de grandes mudanças no mercado de games, e a grande maioria, não parece ser positiva para o mercado como um todo.

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